De uma conversa entre amigas, surgiu a "CodeMigas". A necessidade das estudantes de graduação de Ciência Política da UFPE em aprender programação e analisar dados foi o insight para criar algo a fim de facilitar a aprendizagem do que, até então, é considerado pouco comum na área das Ciências Humanas e Sociais. E ainda, o desejo de enfrentar os desestímulos e o machismo quando se trata das mulheres fazendo coisas socialmente estabelecidas como sendo dos homens.
"A ciência é um ambiente repleto de grandes mentes criativas. Contudo, a maior parte do reconhecimento é dada aos homens que, desde cedo, são estimulados a enveredar por determinadas áreas do conhecimento, sobretudo as que envolvem tecnologia." (CodeMigas)
Um ambiente inclusivo e que proporcione a criatividade, estimule a tentativa e simulação de erros é fundamental para aprendizagem. Porém, na maioria das vezes, esse espaço não é aberto para mulheres, principalmente quando envolve Tecnologia ou Ciências Exatas.
"Pra dar um upgrade na alma de cientista social, comecei a estudar programação pra valer. Mas isso não é de hoje, e sempre faltava aquele empurrãozinho... Daí eu vi que o problema estava em não me sentir capaz. De ser uma mulher arrodeada por homens e tendo que lidar com cobrança a mais por isso." (Letícia Machado, co-fundadora do CodeMigas)
Então, vamos juntas hackear o sistema!
"Nossa ideia inicial era se reunir aos sábados pela manhã para estudarmos juntas (Inicialmente, R e Python). Notamos que essa não era uma dificuldade só nossa. Então, colocamos a ideia na rede para convidar mais mulheres a se juntarem a nós!"(CodeMigas)
Em poucos dias, mais de 70 mulheres da área de Ciências Humanas demonstraram interesse no CodeMigas. As comunidades PyLadies e Women Who Code se aproximaram para apoiar a iniciativa, ensinar programação do zero e auxiliar compartilhando experiência na organização de comunidades.
[Foto: Juntas elas vão hackear o sistema. CodeMigas, PyLadies e Women Who Code iniciam atividades em parceria]
O primeiro encontro da CodeMigas ocorreu no dia 14 de Abril, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH-UFPE), para selar o propósito e dar início as atividades. O ponto de partida são os mesmos sentimentos e objetivos:
- Aprender a programar do zero;
- Não ter medo de errar;
- Pôr em prática o conhecimento obtido;
- Compromisso com o aprendizado.
Na ocasião foram apresentadas as palestras:
- CodeMigas
- It's me! - Simone Amorim (Thoughtworks, WWC Recife)
- Juntas! Desenvolvendo tecnologia com impacto - Karina Machado (WWC Recife)
- Pip install vamos-programar - Lidiane Monteiro (PyLadies/Blog InspirAda na Computação)
Os encontros da CodeMigas devem ocorrer aos sábados (a cada 15 dias) em formato de grupo de estudos para aprender a programar com Python, analisar dados e também linguagens voltadas para desenvolvimento web. Todas as informações serão divulgadas no grupo: https://www.facebook.com/groups/codemigas/
A CodeMigas já nasceu provando a falsidade de estereótipos como "mulheres não se interessarem por programação", "programação não combina com Ciências Humanas", "pessoas das Ciências Humanas só sabem ler e viver do que a natureza dá" e tantos outros clichês absurdos que alimentam uma cultura que afasta as mulheres e elitiza o conhecimento tecnológico.
O letramento tecnológico e a habilidade de programar precisa chegar a mais pessoas e das mais diversas áreas do conhecimento. Sem isso, será muito difícil resolver os problemas sociais e construir um país plenamente democrático e soberano.
Lidiane Monteiro
Fundadora e Desenvolvedora do InspirAda na Computação. Desenvolvedora de Software e Graduanda em Lic. em Computação na UFRPE. Participa das comunidades PyLadies e Django Girls. Joga CS 1.6/Go e Mãe do cachorro Teddy.